Furacão

Quando vem o furacão, sai derrubando, levando tudo. A gente fica de longe olhando os escombros e vê que nada restou, nada sobrou. E é impossível tentar reconstruir alguma coisa ali, naquele terreno.
Você vai precisar de tempo, muito tempo pra levantar. Mas enquanto você está lá olhando os destroços, vem as lembranças, tudo o que você viveu ali, naquele terreno que até ontem era florido e iluminado, e agora está escuro e frio.
Enquanto você estiver lá olhando vai ouvir várias frases feitas. Vão dizer que você vai conseguir, que vai encontrar outro terreno bem mais fértil e próspero, vai construir sua casa novamente. Mas você sabe disso, sua casa já foi derrubada outras vezes e você sabe que vai construir outra casa melhor, com o piso bem mais sólido. Mas nada disso importa agora. Agora você só quer lembrar tudo o que viveu ali, todos os planos feitos, todos os sonhos que nem chegaram a se realizar.
Agora você só quer chorar!
O tempo vai fazer a dor passar e você sabe, mas até lá vai doer muito.É uma dor enorme que você não sabe se é física, um vazio que você não consegue explicar.
Pode demorar para você se levantar, mas o tempo não importa uma hora toda a dor vai passar, você vai levantar e ser feliz novamente, em outro lugar.
Maria Rodrigues
08/05/2010

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

As vezes nunca

Às vezes
Nunca te vi antes
Às vezes nunca amantes
Nunca além
Às vezes nunca te quis
Às vezes nunca infeliz
Nunca ninguém
Não te reconheço mais
Tuas roupas são outras
E soltas de mim
As palavras da tua boca
Te vejo
e pareço louca
Sem memória
Sem estória
Até que alguma canção
Algum cheiro ou expressão
Me faça te ver de novo
Mas é rápido
É quase pouco
E nem dói nada
Nossa paixão congelada

Zélia Duncan.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Avesso

Pode parecer promessa
mas eu sinto que você é a pessoa
Mais parecida comigo que eu conheço
Só que do lado do avesso
Pode ser que seja engano, bobagem ou ilusão
De ter você na minha
Mas acho que com você eu me esqueço
E em seguida eu aconteço
Por isso eu deixo aqui meu endereço
Se você me procurar eu apareço
Se você me encontrar
Te reconheço...
Ceumar.

O que fazer?

O que fazer, quando um ano se passou, muita coisa por fora e até por dentro mudou, está tudo diferente, você nem ao menos lembrou, passou tanto tempo tão ocupado olhando seu próprio umbigo e apenas isso, olhando o seu umbigo, deixou todo o resto do seu corpo e ser, sem cuidar, fez de tudo para não pensar, não lembrar, não ver e nada saber. Evitou lugares que costumava frequentar só para não correr riscos, assim seria mais fácil. Um ano depois, quando parou, e não porque quis parar, porque se pudesse teria continuado correndo o tempo todo, porque no fundo sabia que quando parasse iria lembrar, sem parar nunca, nem por um momento; parou e percebeu que não esqueceu, nunca deixou de pensar, mesmo sem perceber, sem ver, nunca esqueceu. Mudou tudo, o cabelo ficou maior do jeito que ele sempre dizia que gostava, o corpo mais forte e bonito, do jeito que ele sempre admirou nas outras, perceber que me tornei uma pessoa que não sou, que nunca quis ser, e fui fazendo isso ao longo desse ano inconscientemente por causa dele, para ele, mesmo sem nunca ter pensado durante esse tempo se ele voltaria, sem nem mesmo cogitar essa possibilidade, estava tão ocupada pensando no meu futuro, que não percebi que meu coração estava me arrumando para ele, me moldando para ele. Sem dúvida estou bem mais bonita agora, meu cabelo está lindo, enorme, meu corpo, falando de maneira chula, "gostoso", do jeito que os homens gostam, todos, mas fiz para ele, sem perceber, para ele.
O problema é que só agora me olhei no espelho, me olhei de verdade, me vi, mas não me enxerguei, não me reconheci, porque essa mulher não sou eu, eu não sou assim, nunca quis ser, minha mente sem falsa, modéstia está brilhante, estou muito mais inteligente e arrogante, pessoas inteligentes que sabem que são inteligentes são arrogantes mesmo, mas meu corpo, meu jeito, meu cabelo, são de uma garota, uma garota boba e fútil e fui ao longo desse ano ano me transformando nisso sem perceber, sem dar muita atenção. Agora que percebi no que me tornei, quero mudar, voltar a ser fisicamente quem eu era, mas não consigo, não consigo porque apesar de saber que ele nunca vai voltar, no fundo queria tê-lo de novo para mim, pode até parecer irónico, a pessoa que me tornei dizendo isso e sinceramente, nem consigo falar isso em voz alta, não consigo dizer nem a mim mesma que o amo e com todos os seus defeitos eu o quero de volta, mas isso a ele eu nunca vou dizer, e a mim mesma nunca vou conseguir admitir.
Maria Rodrigues.
19/02/2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Saudades do que senti.

Eu tentei me retirar do mundo, saí, deixei tudo para trás, mas isso não foi o suficiente, pensei nele todo o tempo. Mesmo sem ver, sem receber notícias, sem falar ou nem ao menos lembrar, não lembrei, mas também não esqueci. Todos os lugares para onde olhei, tudo o que eu vi, todos os que eu conheci, ele sempre estava lá, em tudo havia alguma coisa dele, no início não percebi, sabia que sentia falta de algo ou de alguém, mas era normal, lugar novo, longe da família, dos amigos, da minha cama, a saudade era dele, do cheiro dele, do jeito de falar, de andar, de dormir. Gostava de vê-lo dormir, parecia uma criança quando dormia, tão tranqüilo. Ele me acompanhou aqui o tempo todo e eu nem percebi, nem vi, mas ouvia sua voz nos meus ouvidos me dizendo o que fazer, me dando a força que eu tanto precisei enquanto estive aqui. Sinto a falta dele e isso é fato, o tempo passou, as coisas mudaram e mesmo sentindo tanto, não o quero mais, mas também não quero esquecê-lo, foi bom amá-lo, tê-lo, ele foi meu amor mais amigo, mais amante, mais marido.
Hoje já não sei se sinto saudades dele ou do amor que senti, saudade de sentir de novo aquela paixão, igual ou melhor, isso talvez eu nunca saiba, porque para saber precisaria tocá-lo novamente, olhá-lo nos olhos, sentir sua pele e sua respiração. E não posso me arriscar a chegar tão perto dele novamente.

Maria Rodrigues.
06/02/2011